O dia em que Baudelaire levou sua Mãe ao Retratista

Quando aparecemos bem numa foto, nos sentimos felizes e satisfeitos...

Quando descobrimos que podemos fazer boas fotos e somos elogiados por isso, nos sentimos artistas...

Quão forte é o poder de sedução da Fotografia!

Pois foi isso que aconteceu com Baudelaire, famoso poeta francês do século XIX, que ferozmente combateu a nova técnica fotográfica que surgia como uma das grandes descobertas daquele século.

Referia-se de forma pejorativa à Fotografia e que essa nunca deveria ser aceita como Arte.

“Quando se permite que a fotografia substitua algumas das funções da arte, corre-se o risco de que ela logo a supere ou corrompa por inteiro graças à aliança natural que encontrará na idiotice da multidão. É portanto necessário que ela volte a seu verdadeiro dever, que é o de servir ciências e artes, mas de maneira bem humilde, como a tipografia e a estenografia, que não criaram nem substituíram a literatura. Mas se lhe for permitido invadir o domínio do impalpável e do imaginário, tudo o que só é válido porque o homem lhe acrescenta a alma, que desgraça para nós!” vociferava Baudelaire.

Em parte ele tinha razão: o homem acrescentou “alma” ao aparelho fotográfico. As artes plásticas sofreram profundas modificações com o surgimento do Impressionismo e da Arte Moderna no início do século XX. Quando também a fotografia amadureceu e adquiriu sua própria linguagem, principalmente com a rapidez na captura de imagens.

 

 

Baudelaire impassível frente à câmera 1855 © Nadar

Pois bem até o próprio Baudelaire teve que se curvar ao avanço da fotografia e foi acolhido por um dos maiores sedutores da arte do retrato, o famoso Nadar. Como vários de seus amigos, artistas e intelectuais, já haviam sido fotografados por Nadar o poeta foi a seu encontro. Esse grande retratista era um homem que sabia como capturar fotograficamente a essência de uma pessoa e tirou vários retratos de Baudelaire. O resultado foi tão satisfatório que recorreu a Nadar diversas vezes, inclusive levando sua própria mãe para participar dessa nova experiência. Nadar vitorioso tirou várias fotos deles e Baudelaire exclamou derrotado: “A partir desse momento, a sociedade imunda precipitou-se, como um único Narciso, para contemplar sua imagem trivial no metal. Uma loucura, um fanatismo extraordinário apoderou-se de todos esses novos adoradores do sol.”

Texto de Rogério Ribeiro – fotógrafo e coordenador de ensino da Câmera Viajante