ENTREVISTA FEITA POR CHARLES DIAS, EDITOR DA REVISTA VIRTUAL:  LOUCO POR FOTOGRAFIA

  “Habana in Pop” é o nome da leitura que o fotógrafo e artista plástico gaúcho Rogério Ribeiro faz da capital cubana. A mostra, que esteve em exposição no bar Sierra Maestra (Rua Lima e Silva, 763 - Porto Alegre/RS), de 27 de nov/2003 a 02 de fev/2004, apresentou 30 fotos 20x30cm em cores extremamente saturadas que apresentam o cotidiano de Havana.


  Neste trabalho, Ribeiro revive a Pop Art, movimento que tomou os Estados Unidos nos anos 50/60 e processava elementos da sociedade de consumo. Em contraponto, o autor destaca em fotos os carros americanos da década de 50, presentes na ilha, em contradição com a vida do povo cubano, que vive com o mínimo de bens de consumo necessários à sobrevivência.

Fonte: www.photos.com.br


  1 - Como e quando você começou a fotografar ??? Como você foi apresentado a fotografia ???

  Rogério Ribeiro - Eu comecei desde bem cedo. Meu pai sempre gostou de fotografar e sempre que possível pegava a câmera dele e saía a fotografar meus irmãos, meus briquedos e até as nossas empregadas que eram as modelos. Eu tinha entre 8 e 10 anos.
  Mais tarde, quando adolescente, viajava muito com meus amigos de carona pelo litoral do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná e São Paulo, sempre fotografando as viagens. Uma vez fomos de carona até Fortaleza, a viagem durou mais de uma semana, quando chegamos lá ficamos alguns dias e logo voltamos. O grande barato era estar sempre deslocando e conhecendo novas cidades e pessoas. Claro que muito dessas coisas estão fotografadas.
  Foi dessa maneira que fui apresentado a arte fotográfica, com viagens, muitas viagens documentadas.

  2 - Como surgiu o projeto "Habana in Pop" ??? Como foi o desenvolvimento, a maturação, do projeto ???

  Rogério Ribeiro - Este projeto teve como "start" a insistência de uma aluna minha que gostou muito dos slides que fiz em Havana em maio de 98, quando fui participar de uma conferência internacional sobre conservação de fotografias promovido pelo Archivo Nacional de Cuba e Northeast Document Conservation Center dos Estados Unidos.
  Esse material nunca havia sido exposto, eu havia apresentado somente como exemplo em aulas teóricas. Bom, eu disse para ela que para produzir a exposição dessas fotos era necessário fazer uma nova criação baseada nas imagens existentes. Então, percebi que o colorido, as pessoas e os carros dos anos 50 que havia fotografado em Havana serviriam para uma releitura de meu próprio trabalho através das técnicas de saturação de cor e contraste. Misturando ícones dos Estados Unidos (carros) com ícones de Cuba (charutos), poderia estar percorrendo um caminho próximo da Pop Art. Foi com esse pensamento que idealizei o projeto da exposição.

  3 - Você teve algum patrocínio para bancar os custos desse projeto ??? Quais as maiores dificuldades materiais que você enfrentou ???

  Rogério Ribeiro - Sim, tive o patrocínio de um excelente laboratório fotográfico de Porto Alegre, a KASAPHOTO. As maiores dificuldades foram relativas a montagem da exposição, principalmente pelo preço das molduras.

  4 - Como é fotografar em Cuba ??? Como o povo cubano vê fotógrafos estrangeiros ??? Como você era recebidos pelas pessoas que ia fotografar ???

  Rogério Ribeiro - São pessoas excelentes possuem um tremendo senso de solidariedade entre si, muito diferentes de nós, mas também possuem uma profunda tristeza e frustação, principalmente entre aqueles que nasceram depois da revolução e não a vivenciaram.
  Os cubanos gostam dos estrangeiros, em particular dos brasileiros. As telenovelas brasileiras fazem o maior sucesso por lá, o nosso futebol nem tanto. Em geral não tive problemas em fotografar as pessoas nas ruas. E para que isso aconteça com naturalidade é necessário uma relação simpática com a pessoa fotografada, um sorriso, alguma conversa e em algumas vezes, também, se fotografa escondido.

  5 - Hoje temos poucas informações sobre cuba e muitas delas tendenciosas. Como é o dia-a-dia do povo cubano que você testemunhou ??? Como é a vida na ilha de Fidel ???

  Rogério Ribeiro - Você falou bem: "a ilha de Fidel". Em Cuba há um mundo para os estrangeiros e outro para os cubanos. Acho que o regime apodreceu, nenhum governo que fique durante tanto tempo no poder tem condições de sair ileso. Não sei o que poderá acontecer com Cuba quando Fidel morrer.

  6 - Porque esse seu interesse pelo estilo "pop" de fotografar ??? De onde nasceu esse interesse pela "Pop Art" ??? Alguma influência de seu expoente máximo, Andy Warhol ???

  Rogério Ribeiro - Eu sempre gostei da Pop Art, pois é um estilo que lida com ícones de maneira irônica, debochada e próximo de uma estética publicitária. Nossos ícones estão por todos os lados, podemos encontrá-los até em uma ilha comunista. Acho que Andy Warhol tornou-se o mesmo tipo de ícone com os quais trabalhava. Aquelas imagens da Marilyn Monroe, do Elvis Presley, assim como as latas de sopa de tomate Champbell's são agora a marca de Warhol.
  Mas existem vários outros artistas interessantes nesse movimento pop, assim com: Lichtenstein, Rauschenberg, Johns e outros.

  7 - O que você acha do rápido avanço da fotografia digital ??? O filme está morto ???

  Rogério Ribeiro - As novas tecnologias sempre aterrorizam. Quando a fotografia surgiu no século XIX se falava muitas coisas, inclusive que era obra do diabo e que o homem não poderia, sem sacrilégios, reproduzir tão fielmente uma imagem real. Agora novamente vemos esse tipo de discussão em torno da fotografia digital.
  As novas tecnologias vêem para ficar e os homens devem se adaptar. Devem haver leis e que sejam cumpridas para que haja o respeito com os direitos autorais de criação e manipulação de imagens.
  O filme não está morto para o artista, mas está ou estará em breve para os meios de comunicação.

  8 - Nos fale um pouco mais da "Câmera Viajante" ???? O que é ??? Qual sua proposta ??? Quais seus projetos ???

  Rogério Ribeiro - A Câmera Viajante tem como foco principal a paixão pela fotografia que muitíssimas pessoas possuem, seja esta digital, convencional ou não convencional. Queremos compartilhar essa paixão com as pessoas e promover cursos e oficinas com esse intuito.
  Quando iniciamos tínhamos como objetivo apenas os passeios fotográficos monitorados que sempre me pareceram a maneira mais rápida e eficaz de uma pessoa aprender fotografia com prazer. Agora estamos com diversos cursos desde o mais básicos até os avançados e técnicos de iluminação em estúdio. Continuamos com os passeios e pretendemos para o ano que vem avançar para o exterior. Vamos para o Uruguai fotografar suas praias e cidades. Estamos tratando com uruguaios para um grande passeio a Punta del Este, Piriápolis, Palomas, Montevidéu e outras localidades.
  Há um ano compramos uma antiga estação de trem no interior do RS a 100km de Porto Alegre. Ela é muito antiga, de 1870, estava abandonada há pelo menos 20 anos. Agora estamos economizando recursos para restaurá-la e criarmos a sede da Câmera Viajante no local. A estação possui um galpão enorme onde as locomotivas e vagões eram consertados e no qual pretendemos fazer o nosso estúdio e laboratório.

  9 - Que conselhos você daria para os fotógrafos amadores que têm projetos fotográficos em mente e não sabem como coloca-los em prática ??? Qual o caminho das pedras ??? O que se deve levar em consideração ??? Quais os cuidados em sua concecussão ???

  Rogério Ribeiro - Esses projetos não devem ficar apenas no papel, devem ser colocados em prática, mesmo que não saiam exatamente como planejamos. O real, o palpável, é o que fica e que comunica. O "caminho das pedras" não é a criação mas como produzir a apresentação e comunicar com nossas obras. Para que as coisas aconteçam é preciso muita persistência e paciência, além de uma boa dose de disciplina e de muito estudo.


 

Foto: Daniela Remião

  Rogério Ribeiro tem 45 anos, mora em Porto Alegre-RS, é fotógrafo freelancer, professor e coordenador da escola de fotografia CÂMERA VIAJANTE, tendo vários trabalhos expostos em Genebra, Rio de Janeiro, Nova York, Londres e Aukland (Nova Zelândia).